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Artista de atitude: Vale a pena se posicionar politicamente nas redes?
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Artista de atitude: Vale a pena se posicionar politicamente nas redes?

HÁ QUEM CONCORDE OU DISCORDE QUE POLÍTICA E MÚSICA ELETRÔNICA SE MISTURAM. DE QUAL LADO VOCÊ ESTÁ?

De djmagbr.com
Por Gabriela Loschi

Acabamos de passar por um momento bem estressante no Brasil. Uma das eleições mais conturbadas que já presenciamos no país impeliu boa parte das pessoas a se posicionar. Após amizades, natais e talvez até alguns contratos desfeitos, sobrou um grande desconforto e a polêmica: artistas de música eletrônica deveriam tomar posição nas redes sociais?

Esse questionamento conturba tanto a vida dos mais engajados, que deixam claras suas convicções, quanto a dos mais cautelosos. Se de um lado o dever cívico intrínseco o chama para tomar um posicionamento, por outro a razão o adverte: cuidado para não falar demais e acabar fechando portas.

É bom saber que isso pode mesmo acontecer, e não só na política. Qualquer posicionamento eventualmente afugenta uns e rompe laços com outros. Mas já dizia o ditado: “quem quer agradar a todos, não agrada a ninguém”. Até que ponto, então, vale a pena não expressar uma opinião com medo do que os outros pensarão? O que você pode ganhar ou perder com isso?

O maior problema de quem decide se posicionar é emitir opiniões sem embasamento, ou baseadas muito na emoção e não na razão. Portanto a primeira dica é: se optar por falar, saiba onde está pisando. Deixe os achismos pra lá e não fale sobre o que não sabe ou não tem certeza; reflita se é um sentimento seu criado por fake news (ou de repente até por preconceito) ou se há fundamentos realistas, pois se falar por falar já afeta um cidadão comum, imagina uma pessoa pública, um artista, alguém com visibilidade. É normal, portanto, o receio.

Não faltam exemplos de falas infelizes (dentro e fora da música eletrônica, sobre política ou não) que culminaram num grande prejuízo para o artista. Exemplo clássico foi o Ten Walls, que no auge da carreira perdeu gigs importantes e contratos devido a um comentário homofóbico em seu Facebook, o que vai contra a origem da música eletrônica enlaçada com a comunidade LGBT. Aqui no Brasil recentemente o DJ carioca Joutro Mundo teve seu inbox exposto evidenciando comentários machistas que levantaram a fúria da comunidade e também o fez perder gigs. No caso dele não foi um posicionamento explícito, mas algo que ele falava nos bastidores. Porém, quando teve a chance de se posicionar, seu comunicado oficial também não convenceu, o que nos leva a mais uma questão: o artista deve estar preparado para saber falar as coisas certas nas redes sociais, independente da situação.

Para isso acontecer o melhor conselho é praticar a empatia. Esse sentimento poderoso te coloca no lugar do outro, abre sua mente, tira o foco apenas das suas convicções e te faz pensar nos sentimentos de quem recebe a mensagem. Pelo que essa pessoa já passou? Como o mundo a trata? O que poderia magoá-la e o que poderia empoderá-la? Esse exercício ajuda a manter uma comunicação assertiva, inclusive quando você expõe um ponto de vista que contrarie algumas pessoas. A forma como você se expressa, muda tudo.

Mas política e música eletrônica se misturam?

Todo mundo lembra da enxurrada de “fãs” mandando o Roger Waters “parar de falar” e focar na música em sua última turnê pelo Brasil. E o tanto de gente xingando o Zedd, quando o mesmo se posicionou contra o Trump? Até o Dave Clarke, quando disse que não tocaria mais nos Estados Unidos “por causa do presidente misógino e racista”, teve que aguentar comentaristas de internet exigindo que ele deixe o techno fora da política.

É compreensível que alguns assuntos polêmicos inflamem o ânimo das pessoas, afinal a política pode mudar sua vida, mas o que você tem a ver com um casal de gays se beijando, por exemplo? Discutir com a emoção e não com a razão não vai te ajudar. E nem mudar o fato de que esse tipo de comentário “continue-fazendo-música-e-pare-de-se-meter-na-política” esquece que a arte é a própria expressão dos sentimentos e emoções do seu criador. Ela não só já vem ao mundo imbuída de significados como é impossível dissociá-la da política, no sentido etimológico da palavra.

Desde o Antigo Egito registros mostram músicas sobre as conquistas das nações; que evidenciam o posicionamento do artista perante alguma questão. Da luta pela liberdade ao hedonismo, das desigualdades sociais aos direitos civis, o rock, a mpb, hip hop, jazz, são apenas exemplos de ritmos que já foram ou são utilizados para expressar opiniões diversas e protestar. Se a arte e a música sempre estiveram presentes em toda a sociedade, independente do poder aquisitivo, como dissociar que ela seja também uma forma de expressão democrática?

E na música eletrônica, apesar de alguns afirmarem que ela foi feita apenas para dançar, não é diferente. Não precisamos nem só buscar a origem dela para ter certeza disso – mas conhecer sua história certamente coloca as coisas em perspectiva. Do house nascendo como linguagem de resistência, sendo os primeiros clubs de Chicago lugares de liberdade e expressão dos grupos oprimidos. Da comunidade negra abraçando o techno desde o começo. Do Underground Resistance transmitindo a luta contra a opressão através do seu som. Do Jeff Mills afirmando que “tentamos usar a música como um dispositivo para lembrar as pessoas que se sentem confinadas de que elas podem se libertar a qualquer momento. Que cada um de nós nasceu com o direito de ser livre”. Isso é política pura.

Isso não significa que todos os artistas fazem música com contexto político, ou que precisem se expressar nas redes sociais. Mas significa que devemos respeitar e aceitar quem o faz. Que se suas convicções forem contrariadas pelo posicionamento do seu ídolo, você deve se perguntar: por que ele está falando isso? E não exigir que ele não o faça. Pois será em vão. O entrelaçamento da política com a música sempre existiu e é absolutamente inegável.

Então mais do que saber se você deve ou não entrar em determinados assuntos “polêmicos”, é necessário saber COMO entrar.

No fim das contas, eu devo ou não me posicionar?

Não há uma resposta mágica, pois é algo muito pessoal. Zedd, Dave Clarke, Roger Waters e tantos outros, seja do lado que for, têm suas causas e convicções e o fato de terem recebido comentários negativos não significa que não ganharam pontos com um monte de gente. “Fico feliz em ver que você não é insano <3″ e “obrigado Zedd por ser uma pessoa que não tem medo de dizer o que é certo e errado, mesmo que seja contra o presidente dos EUA”, também estão lá na caixa de comentários. Então depende da personalidade e do engajamento de cada um. Se você escolher se posicionar, saiba que, assim como a dualidade entre o conflito e a harmonia estão presentes na estrutura musical, também estão nas relações humanas – e nas redes sociais. FOTAQUI 10 dicas e considerações práticas sobre o assunto

1. “Sou engajado, quero dar minha opinião, ou ser o próprio movimento”. Algumas portas irão se fechar? Provável. E outras se abrirão.

2. Seja assertivo! Pesquise antes de falar e procure falar de fatos, não de pessoas, mostrando que não é algo pessoal.

3. No Brasil e no mundo coletivos como Carlos Capslock possuem um posicionamento claro. Donos de clubs também têm suas preferências. Significa que se você faz parte de um núcleo com visão política, ótimo, vocês estão engajados na mesma causa. Se não, entenda que tipo de artista você quer ser, para quem gostaria de tocar e se você está sendo razoável, antes de formar seu posicionamento.

4. Estude bem a cena em que você quer entrar e se ela condiz com a sua forma de ver o mundo.

5. Pense na sua personalidade, nos valores que
você carrega para a sociedade e no que você almeja para sua carreira e vida, para decidir se vale a pena ou não botar a boca no trombone.

6. Respire fundo e fale com inteligência, sem agredir outras pessoas. Construa um debate saudável.

7. Se você achar que está sendo muito agressivo ou ofendendo pessoas, releia, repense, dê o post para alguém ler antes.

8. Seja sempre profissional, não passional.

9. Cada pessoa percebe sua realidade de uma forma e sente necessidade ou não de se expressar. A música já é uma forma de comunicação, mas se o artista quer dizer algo com palavras e posts sobre assuntos diversos, ele tem o direito. Apenas respeite. Ganhar ou perder fãs por conta disso é a decisão de cada um.

10. Não seja mais um babaca no mundo. Crie e se comunique com verdade e solidez. Aceite as diferenças. Ninguém é igual a ninguém. Admita opiniões diversas.

Por fim estamos todos no mesmo barco. Conflitos humanos vêm da infância, quando muitas crianças não são educadas para questionar e ficam à mercê de adultos, pais e professores autoritários que querem impor suas crenças e visões. A criança torna-se inibida e com problemas de posicionamento. Trabalhar seu senso crítico, portanto, fará realmente a diferença na sua vida, seja como público incomodado com artistas que se posicionam, seja como artista tentando se posicionar com coerência. Boa sorte!

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