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A psicologia humana por trás da vontade de participar de festivais de música
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A psicologia humana por trás da vontade de participar de festivais de música

WHY WE RAVE? O QUE NOS MOTIVA A FREQUENTAR FESTIVAIS?

Texto por Noah Little (edm.com)
Tradução por Priscilla de Seixas

Olá leitores da edm.com, meu nome é Noah Little; um entusiasta de psicologia musical que irá prover à vocês um pouco de conhecimento da ciência da música. Sim, pessoas podem estudar psicologia musical para viver disso, ou, pelo menos, para a graduação delas, como eu fiz.

O primeiro tópico a ser explorado é a motivação humana por trás do que nos motiva primeiramente a ir à festivais de música. O que é que nos leva à esses encontros musicais? O que atrai e faz com que nossos companheiros amantes de música eletrônica compareçam à festivais ano após ano? Psicólogos musicais encontraram diversos fatores que levam pessoas à comparecerem a clubes locais ou grandes festivais como Tomorrowland e Ultra Music Festival. Os motivos mais comuns citados foram a “novidade” de um evento, escape da “vida real” e oportunidades de socialização (1).

Primeiro, é novidade ou uma experiência fora do normal, da rotina. É um evento agradável que acontece periodicamente, e você cria uma grande expectativa antes de ocorrer (2). No caso de grandes festivais, isso acontece uma vez ao ano. Lembra-se de alguma vez contar os dias, as semanas antes de um show? Humanos gostam de novidade; por isso trocamos de carro, compramos novas roupas, buscamos por restaurantes que não conhecemos para comer.

Relembre-se do primeiro festival de música eletrônica que você participou. Ver todas aquelas pessoas com roupas neon e os dedos iluminados provavelmente foi sua primeira vez experimentando e vendo tudo aquilo. Ver a abertura de set do seu DJ favorito, a multidão indo à loucura; também uma nova experiência. Porém, após ir à alguns festivais, essa novidade já não é mais uma “novidade”. Você não se sente mais tão ansioso por ir; você já sabe o que vai encontrar. Então, o que faz? Uma grande quantidade de pessoas procura por festivais menores para uma experiência mais íntima/individual, ou por grandes festivais para ver grandes produções, atividades e artistas que aprecia. Simultaneamente, os produtores desses festivais querem se reinventar todos os anos. A cena eletrônica se renova ano após ano, e novas coisas são adicionadas. Holy Ship, um festival que acontece num cruzeiro em alto mar, Electric Forest (festa na floresta), e Sensations White, são experiências únicas. E todos tentam sempre trazer novidades aos frequentadores de festivais. Num todo, a promessa e a expectativa pela novidade nestes eventos é uma tentativa de retirar os indivíduos de suas rotinas, de suas experiências típicas do dia a dia. Esses únicos e empolgantes eventos é o que nos leva à esses festivais e nos direciona ao segundo motivador, o escape.

Humanos tem uma tendência ao escape. A teoria motivacional de Iso-Ahola (1982) sugere que os indivíduos são levados pelo desejo de escapar de suas rotinas e das funções do dia-a-dia(3). Filmes, drogas, viagens; todos mudanças temporárias de nossas realidades, uma maneira de nos esquecermos de nossos problemas e preocupações. Comparecer à festivais nos permite imergir nesse universo sem pressões sociais, sem expectativas; nós deixamos de lado nossas obrigações com escola/faculdade e trabalho. Muito importante nesse meio é que os fãs de música eletrônica não se importam se seu moicano é roxo, se você está semi nu. E esse respeito acontecerá igualmente se você aparecer vestido como um executivo, de terno e gravata. Talvez isso seja parte da cultura PLUR (Peace, Love, Unity and Respect – Paz, Amor, União e Respeito), mas também acredito que sejam as pessoas que frequentam. De fato existe uma compreensão mútua de escape das visões de “aceitável” da sociedade e posturas do dia-a-dia. Investigaram um festival de música na china, e um fato interessante descoberto foi que as pessoas que iam até o festival eram motivadas pois desta forma estariam escapando da opressiva sociedade do estado Chinês. Por exemplo, algumas participações reportadas nesse festival eram as primeiras vezes que muitos poderiam demonstrar afeto em público no caso de casais LGBT’s (4). Esses ambientes fornecem à esses indivíduos uma chance de escaparem de tudo ao redor; um lugar onde as pessoas se sentem livres para se expressarem da forma como são, quem amam, como amam e sem os olhares cruéis, preconceituosos e julgadores da sociedade.

Por último, a socialização, o desejo de interagir com pessoas conhecidas e desconhecidas, é a motivação mais comum que leva as pessoas a irem à festivais de música. E claro, estar entre outras pessoas é um comportamento inato e saudável do ser humano; se isolar é contra a natureza humana. Ir à festivais com amigos, familiares, conhecer novas pessoas, todos fazem parte do aspecto de socialização de festivais de música (5). Que experiência é ter amigos e pessoas amadas, mas também num grupo de amigáveis desconhecidos. Em suma, a maior parte do público vai ao local na mesma vibe, buscando por momentos memóraveis e experimentar o festival ao seu máximo. Não é incomum trocas de telefones, amizades instantâneas, compartilhar pulseiras Kandi com os outros; não existem barreiras de etnias, classe social, ocupação. São apenas pessoas. Essa experiência social é parte da mágica que esses festivais proporcionam. Um senso de camaradagem. É similar ao que acontece em festivais esportivos, mas a diferença é que todos estão no mesmo time, e não há perdedores. A igualdade entre todos enquanto estão dançando, cantando a mesma música é um sentimento especial; quase indescritível em alguns momentos por conta da conexão genuína que é sentida pela multidão. Essas oportunidades de socialização e interatividade positivas são raras nas nossas rotinas, mas em festivais é frequente. Esses processos sociais estão criando potenciais atrações adicionais à esses eventos, contribuindo com a explosão de festivais de música eletrônica ao redor do globo. Como dizem Above & Beyond: nós somos tudo o que precisamos.

Eu espero que esse primeiro artigo delineando os desejos humanos por novas experiências, escape da realidade e socialização em festivais de música eletrônica tenha sido de interesse de muitos de vocês. Aguardo comentários, perguntas e tópicos que vocês gostariam de ver nos próximos artigos.

Vejo vocês na próxima.

Noah.

SOURCES:

1. Abreu-Novais, M., & Arcodia, C. (2013). Music festival motivators for attendance: Developing an agenda for research. International Journal of Event Management Research, 8(1), 34-48.

Readable version here: http://www.ijemr.org/wpcontent/uploads/2014/10/Abr…

2. Faulkner, B., Fredline, E., Larson, M., & Tomljenovic, R. (1999). A marketing analysis of Sweden’s storsjoyran music festival. Tourism Analysis, 4(3), 157-171.

Abstract here:

http://www.sciepub.com/reference/94464

3. Iso-Ahola, S. E. (1982). Toward a social psychological theory of tourism motivation: A rejoinder. Annuals of Tourism Research, 9, 256-62.

An article discussing this motivation theory here:

http://ac.els-cdn.com/S1877042814065859/1-s2.0-S18…

4. Li, Y.-N., & Wood, E. H. (2014). Music festival motivation in China: free the mind. Leisure Studies, 1–20.

5. Ballantyne, J., Ballantyne, R., & Packer, J. (2013). Designing and managing music festival experiences to enhance attendees’ psychological and social benefits. Musicae Scientiae, 18(1), 65–83.

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